Eu vi um mendigo
Deitado no chão, rasgando o lixo.
Comendo o resto, o nosso resto.
Lambendo uma lata de sardinha
Mastigando um pedaço de banana...
Comendo o resto, o nosso resto.
Quem é ele? Qual seu nome?
Um desgraçado sem família, sem modos.
Quem ele pensa que é?
Enfeiando a cidade, sujando nossa cidade.
É um miserável, um pobre miserável.
Eu vi um mendigo.
Comendo o resto, o nosso resto.
Já ouvi antes, que ele é do mal...
Não se aproxime, não chegue perto
Pois ele é do mal, é o nosso mal.
Não o olhe nos olhos, porque se olhar...
Verá seu próprio rosto ali na miséria
Na sua miséria... Tudo o que é seu
E que jogou nele, nas costas dele.
Não olhe pra ele
Não queira ver que ele é o resultado
Do seu sucesso, da sua glória
De tudo que acha certo.
Não olhe pra ele.
Sinta medo dele.
Pois tem gente torcendo por isso...
Pra que odeie ele, que sinta nojo
Continuem assim, até se tornar igual a ele.
Porque só quando dormir na rua
Saberá que o coitado, àquele desgraçado.
Só existe porque você não ligava pra ele
Não votava por ele.
Não se iluda, você é culpado!!!
Eu vi um mendigo...
Eu vi um mendigo...
Deitado no chão, rasgando o lixo.
Comendo o resto, o nosso resto.
Lambendo uma lata de sardinha
Mastigando um pedaço de banana...
Comendo o resto, o nosso resto.
Quem é ele? Qual seu nome?
Um desgraçado sem família, sem modos.
Quem ele pensa que é?
Enfeiando a cidade, sujando nossa cidade.
É um miserável, um pobre miserável.
Eu vi um mendigo.
Comendo o resto, o nosso resto.
Já ouvi antes, que ele é do mal...
Não se aproxime, não chegue perto
Pois ele é do mal, é o nosso mal.
Não o olhe nos olhos, porque se olhar...
Verá seu próprio rosto ali na miséria
Na sua miséria... Tudo o que é seu
E que jogou nele, nas costas dele.
Não olhe pra ele
Não queira ver que ele é o resultado
Do seu sucesso, da sua glória
De tudo que acha certo.
Não olhe pra ele.
Sinta medo dele.
Pois tem gente torcendo por isso...
Pra que odeie ele, que sinta nojo
Continuem assim, até se tornar igual a ele.
Porque só quando dormir na rua
Saberá que o coitado, àquele desgraçado.
Só existe porque você não ligava pra ele
Não votava por ele.
Não se iluda, você é culpado!!!
Eu vi um mendigo...
Eu vi um mendigo...
BRUNO RAPHAEL
São Paulo, 2003.
3 comentários:
Esse eu conheço a algum tempo. Lembro-me dele.
A desgraça alheia pode até não doer, quando ideológicamente esta longe de nossas experiências, mas quando bate nossa porta, quando o indivíduo deixa de ser o personagem da novela, quando deixa de ser o "Preguiçoso da rua", para ser o parente próximo, o até mesmo o patrão fálido, o menino de rua deixa de ser o trombadinha, para ser o ladrão que envade a mansão do burguês, verás que a "Desgraça alheia não dói", mas ao contrário, a nossa desgraça aparenta ser eterna.
Exatamente, enquanto as "desgraças" feitas pela divisão desigual de nossa e outras sociedades não chegam em quem as dominam tudo isso passa como se não houvessem ou simplesmente são indolor.
Contudo, quando estes mesmos contrastes se refletem e afetam diretamente quem os propiciou o negócio muda de figura e passa a ser tratado como problema urgente.
Um exemplo: enquanto os negros ex-escravos estavam somente nos morros, tudo bem pra elite, agora quando descem e começam o tomar a cidade é Estado Novo, Ditadura Militar, ou o que for necessário para contê-los, ou ainda, pra minimizar qualquer outro tipo de força que possa retirar sua soberania política, econômica e social.
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